sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Lendas Gauchas

Uma das partes que abrange nosso folclore são as lendas,aquelas passadas de pai pra filho,do avô para o neto,em fim de pessoas para pessoas falando das gauchadas,camperiadas,etc.

Mas o que é lenda?
As lendas são parte importante do folclore de um povo, estudá-las éfundamental para o aprofundamento da alma popular. Muitas vezes não conhecemos um grupo social em profundidade sem intimar o seu folclore.Estudar as lendas, portanto, é fundamental.

Por que conta-las ?
As lendas são histórias da região contada pelo seu povo. O povo conta
lendas para fazer a sua autobiografia, para relatar as suas memória.
Trata-se de uma profunda e urgente necessidade de explicar-se. As lendas
são assim um depoimento que o povo faz sobre si mesmo e para si mesmo.
Depor sobre nós mesmos !!! E o folclore tem a vantagemsobre a mera confissão de ser sempre coletivo. Dá explicações, diz dosporquês, exorciza fantasmas,consagra o herói. Um banco forrado de pelego numa roda de mate será sempre mais eficaz que um terapia de grupo. Então, tenha uma boa leitura.

Primeira Lenda:

A Origem do Mate – Guaranis(Mate – Caá)


Caá-y (Erva Mate)

Árvore da Erva Mate (Ilex paraguariensis)
Entre um dos povos de fala guarani, na região do Guairá, havia uma moça de nome Yarí-i, que tinha um velho pai. A tribo chegava num lugar, derrubava mata, plantava mandioca e milho. Mas quando a terra ficava fraca e a caça e pesca começava a escassear, era hora de mudar.
Yarí-i era filha mais nova do velho guerreiro. Era bela e jovem, e cuidava com carinho de seu velho pai quase cego, que se negou a seguir com a tribo à qual pertenciam, quando foi hora de partir. Ele já não podia caçar, pescar, nem caminhar velozmente pela mata. Não tinha mais forças para continuar.
Mas antes de sua tribo partir pediu-lhes que levassem sua filha. Era jovem demais para perder sua juventude na solidão da mata, acompanhando seu velho pai. Merecia a companhia de outros jovens.
Mas a jovem negou-se a seguir com a tribo, dizendo que ficaria e cuidaria do velho pai. Aprenderia a caçar e pescar como os homens, e a cozinhar como uma mulher. Ela sabia que sem sua ajuda, o pai não sobreviveria.
Carinhosa e dedicada, Yarí-i rapidamente aprendeu a pescar, caçar, colher os frutos na mata fechada e cozinhar deliciosas comidas para o pai.
O pai agradecido, pedia a Tupã que recompensasse a filha por tanto sacrifício.
Um dia apareceu na tapera um viajante estranho, pedindo pousada, pois vinha de muito longe, estava cansado e com fome. O velho, apesar da pouca comida, ofereceu abrigo ao viajante.
Este viajante foi muito bem recebido pelos solitários. Yarí-i caçou e cozinhou para ele. À noite, cantou-lhe um belo e triste canto para que adormecesse na confortável cama que ela mesma lhe havia preparado em uma outra tapera, e na qual esperava que ele tivesse um bom descanso e o melhor dos sonos.
No dia seguinte, o viajante saiu para caçar. Entrou em uma mata próxima, voltando com muita caça para seus hospedeiros. Era em retribuição a tão boa acolhida que teve daqueles dois. Disse que nunca tinha sido tão bem recebido.

Folhas de erva-mate
Então, preparou-se para partir. Mas antes de recomeçar a caminhada, confessou aos seus hospedeiros ser um enviado de Tupã, que estava preocupado com a sorte dos dois. Para retribuir o tratamento impecável recebido, perguntou-lhes o que desejavam, pois fosse qual fosse o pedido seria atendido.
O velho e cansado pai, pensou na filha, que não casara, não tinha filhos, e ficara apartada de sua tribo para dele cuidar. Pediu então ao mensageiro de Tupã que lhe desse algo para devolver-lhe as forças. Assim Yarí-i ficaria livre para voltar para a tribo já que não precisaria mais cuidar do pai.
O mensageiro de Tupã entregou ao velho um galho de uma árvore que chamou de Caá. Ensinou-lhe que ele deveria colher as folhas e secá-las ao fogo. Depois tinha que triturá-las e colocar dentro da cuia, juntando água quente no frio, ou água fria no calor. Depois que bebesse desta infusão, com um canudo de taquara. Assim voltaria a ter força, vigor, além de que a bebida seria grande companhia até nas horas tristes de solidão.
Por mais que cortasse das folhas da caá ela jamais deixaria de brotar e florir, cada vez com mais vigor, sendo eternamente jovem.
Quanto a Yarí-i foi transformada em imortal, a Caá-Yarí, deusa dos ervais e protetora da raça guarani. Ela tornou-se a responsável pela caá, para que jamais deixasse de existir. Cada um que fizesse uso da caá seria forte e feliz. Yarí-i teria que contar sobre ela para todos. Mas ela não sabia como faria isto isolada no meio da mata, sem ninguém por perto.
Em uma tribo que vivia perto dali, teve uma grande festa. Dois moços brigaram e um deles acabou morto. O que sobreviveu foi expulso da tribo e começou a vagar pela mata. Jaguaretê caminhou muito até que cansado, pediu para morrer. Foi então que viu uma índia muito bonita que se disse chamar Caá-Yarí. Ela ensinou-lhe o uso da caá-y (erva-mate), fazendo-o recompor-se do cansaço.
Muito tempo se passou, até que novamente apareceu um grupo de caçadores por ali. Viram uma tapera velha, e de dentro saiu um homem de cabelos muito brancos, mas parecia jovem pela força e alegria que tinha. Era o jovem Jaguaretê expulso da tribo, agora já velho. Ele então contou aos visitantes sobre o caá-y, ensinando-lhes a usá-lo. E estes ensinaram a outros, que ensinaram a outros mais.
Passado muito tempo mais, chegou um povo estranho de gente branca, que aprendeu com os índios a tomar da infusão. Caá-y virou Erva-Mate na língua destes estranhos. Mas até hoje, é símbolo de hospitalidade oferecer da Erva-Mate aos visitantes, do mesmo jeito que fez Jaguaretê, quando encontrou novamente sua tribo.

Curiosidades:

Caá em língua guarani quer dizer planta ou erva. A palavra mate usada para designar a erva-mate, deriva da palavra quíchua Matí, nome que davam à cabaça na qual toma-se a erva, já na época dos espanhóis. Anteriormente era Caá-í o nome da bebida. Era consumida também entre os Aimarás e Quíchuas (povo que ficou conhecido como Inca).
Além de beber a infusão na cuia feita do fruto seco do porongo, com canas feitas de taquara, os indígenas também mascavam as folhas nas longas viagens. No Brasil a bebida quente é chamada de Chimarrão, que vem do espanhol cimarrón, designação que era dada ao animal doméstico que fugindo do dono voltava a ser selvagem. A bebida fria é chamada de Tereré. Nos países de língua espanhola (Argentina, Paraguai, Uruguai) é conhecida como Yerba Mate ou Hierba Mate a versão quente, e a fria também é chamada de Tereré.

Nenhum comentário:

Postar um comentário